Afreudite, blog da blague "La valeur du message gît dans sa différence avec le code" "L´équivoque est la seule arme dont on dispose contre le symptôme" Lacan

Thursday, June 16, 2005

A falta de visão e a visão da falta

afreudite*

No dia, a seguir ao falecimento de Álvaro Cunhal, foi inaugurada a Fundação Champalimaud . Este exemplo do "grande capitalista" execrado-amado ( "hainamoration" Lacan) doou um terço da sua fortuna à investigação bio-médica e, em particular na área da oftalmologia.
Quem sabe se a velha raposa não estaria a pensar , irónicamente, no seu arqui-rival , presidente do PCP que, sofria, nos últimos anos de uma notória "falta de visão".
Há quem ache que ele começou a sofrer de "miopia" (ou de "retrovisão") a partir da queda do "muro de Berlim" e da implosão do "campo soviético".
Os adeptos do materialismo histérico arriscam o diagnóstico de "cegueira histórica", enquanto outros, mais argutos, falam em "cegueira histérica" .

Saturday, June 11, 2005


Frida Kahlo : A ferida e a beleza (Kallos em grego) Posted by Hello


Frida Kahlo : Las duas Fridas Posted by Hello

Friday, June 10, 2005


Frida Kahlo : Diego in my thoughts Posted by Hello

O que não se pode dizer...

Parafraseando Wittgenstein ( O que não se pode dizer, pode-se mostrar ) Frida Kahlo poderia dizer : " Kahlo a Frieda (divisão) mas não sem a mostrar. "


Frida Kahlo : Duas mujeres Posted by Hello

Tuesday, June 07, 2005

Uma pedrada no Charcot

A invenção da psicanálise constituiu uma pedrada no Charcot da hipnose.

Saturday, June 04, 2005

O estilo é o homem

O naturalista Buffon, no discurso que proferiu, quando foi admitido na Academia das Ciências, enunciou que " le style c ´est l ´homme ".
Stalin , cujo nome quere dizer homem de aço, bem poderia dizer que " Le steel c ´est l ´homme ". Como ele se fartou de meter a mão ao bolso dos cidadãos (talvez para manter a dita dura), também poderia acrescentar que " Le steal c ´ est mon style "

Inédipos - O Retrato de Dorian Gray

O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

Dorian Gray , jovem aristocrata, apaixona-se por uma cantora, nova também , mas de extracção algo duvidosa.
Trata-se de dois mundos separados (aristocrático / popular), mas , talvez por isso atraídos ,um pelo outro.
Em ambos os casos, os protagonistas estão rodeados por um par de pessoas que os tentam influenciar em sentidos antagónicos.
No que concerne a cantora, a mãe não deixa de acalentar a esperança de ver a filha casada com um aristocrata. Não esteve ela, humilde actriz, a ponto de casar com um nobre ? Em contraste, o irmão marinheiro, não acreditando na viabilidade daquela união, procura dissuadir a irmã de continuar a receber o jovem Dorian.
O equivalente, do lado do aristocrata, do irmão desconfiado, é constituído pelo cínico sir Henry que faz o que pode para acordar Dorian do sonho romântico em que se compraz, lembrando-lhe a transitoriedade do amor e a inconstância das mulheres.
Em contrapartida, o autor do retrato do jovem enamorado, um retrato tão semelhante que parecia vivo, defende acaloradamente , os direitos do coração.
Quando Dorian contempla o seu retrato emite o desejo de ser poupado ao envelhecimento, a prece de poder conservar, como no retrato, uma eterna juventude.
Os deuses ouviram a sua prece, satisfizeram o seu voto mas fizeram repercutir, no retrato, as transformações morais do jovem Dorian, convertendo-o assim numa espécie de espelho da alma.
O retrato, que dá o título à obra, transforma-se , gradualmente, numa espécie de "espelho impossível, porque o que nele se vai reflectir, cada vez com mais nitidez, são os contornos do objecto, objecto do fantasma, que, de acordo com Lacan , é não especularizável.
Se o pintor e a mãe favorecem a ligação , é porque se encontram do lado da "estetização", do embelezamento da "Coisa" enquanto que o cinismo de Sir Henry e a desconfiança do irmão da cantora traiem uma certa intuição ou "faro" da Coisa em decomposição.
Não por acaso, o jovem Dorian oscila entre uma atitude romântica e uma atitude cínica quando recebe a notícia da morte da mulher amada.

Com Papas na língua

Não sei porquê mas desde a morte de João Paulo II que os católicos têm andado com Papas na língua...

Friday, June 03, 2005

Fora do Mundo

A Europa e quem diz Eu-ropa diz o mundo (narcississme oblige) está fascinada pela figura do jovem incógnito que foi encontrado a vaguear nas praias da Inglaterra. Mútico, ele ascende a um estatuto mítico, ao revelar-se músico quando posto perante um piano.
Combinando um desligamento quase total do laço social com uma aptidão surpreendente para a música, este jovem apresenta certos traços do "autista" sobredotado.
Estamos perante um caso de "forclusion du Nom-du-Père" (rejeição do Significante Paterno, que simbolizando o "significante do Desejo da Mãe" confere ao sujeito uma certa autonomia e uma inscrição no laço social). Quem rejeita este significante fundamental, condena-se, de certo modo, a viver "hors discours", à margem da sociedade. Pese aos autores do conhecido blog, são estes refractários à "Lei do Pai" que vivem verdadeiramente "Fora do Mundo" . Retomando um jogo de palavras de Lacan acerca do seu célebre significante (Le Nom-du-Père) o que este caso do músico mútico demonstra é que " les non-dupes èrrent", aqueles que não aceitam a "impostura" paterna , erram , condenam-se a errar , vaguear pelo mundo. (*)
Não resisto a este propósito a retomar algumas considerações que Monique Kusnierek tece, baseando-se em Éric Laurent, àcerca do autista .
O autista, apesar da designação, não deixa de estar acompanhado por um objecto. Trata-se de um objecto que faz as vezes de um "orgão suplementar", suplementar em relação à linguagem. O autista aplica a este objecto real, fora do corpo , uma manipulação que não passa pela fala mas que reveste a forma , em geral, de um batimento, de um movimento alternado em 2 tempos, uma abertura e fechamento " isto é , um movimento que tem estrutura de linguagem..." Tudo se passa como se o autista procurasse introduzir pelo real da manipulação, o simbólico.
Através deste objecto, o autista procura uma suplência ao simbólico, à linguagem que no seu caso não se constituiu em "órgão" susceptivel de organizar o corpo e normalizar o gozo.
Esta suplência ao órgão-linguagem porque dispensa o simbólico, acaba por se confinar a uma manipulação que se limita a uma reprodução infinita do mesmo sem dar lugar a uma série diferenciada possível apenas a partir do Simbólico.

Penso que é um pouco o que se passa com o músico mútico. Ele revela algum virtuosismo mas toca, segundo creio, sempre as mesmas melodias, provavelmente, na mesma ordem. Funciona não como um artista, cioso da sua originalidade mas como uma máquina, uma "caixinha de música".

(*) Como indica o mote do Vº Congresso da AMP (Associação Mundial de Psicanálise) a realizar no próximo ano em Roma, há que servir-se do Nome-do-Pai sem se tornar seu servo.

Orgonautas

Nas paredes, um cartaz anunciando as virtudes do Reiki. Termo japonês que significaria, de acordo com o panfleto, Energia Universal da Vida. Energia que, de acordo com os meus parcos conhecimentos de línguas orientais, corresponde à raiz (Ki), derivada do chinês Chi (o spirus ou sopro ).
De acordo com os "Reikianos", a saúde dependeria de uma livre circulação do Ki pelo corpo, a doença surgindo quando o livre fluxo encontra obstáculos. Obstáculos que os iniciados estariam em condições desuperar pela técnica da "imposição das mãos".

Não deixa de haver alguma analogia entre o Chi Chi nês e a "libido" freudiana. E entre a técnica da "imposição das mãos" e a célebre pressão na testa do paciente exercida com a mão por Freud na pré-história da psicanálise.
O que distingue a libido freudiana do Chi Chi nês é que a libido freudiana tem mais a vercom a linguagem do que com qualquer fluido biológico . Foi graças à ancoragem na linguagem que ele evitou o delírio "orgonautico" de Reich. Sem dúvida, a sua energia do orgone, tem mais afinidades com o Ki dos Reikianos do que com a libido freudiana. E o seu método de tratamento, nas fases finais da sua vida, aproximava-se mais do dos Reikianos que dos de Freud. O seu "condensador de orgone" funciona segundo o mesmo princípio que o da técnica da "imposição das mãos". A única diferença é que, no caso dos Reikianos, "o condensador de orgone" não é uma máquina, mas um homem , o "mestre". Optando pela máquina, Reich revelava-se alguém que se inseria no discurso "maquinal" da ciência , discurso "objectivo" que nada quer saber do sujeito do inconsciente (efeito de linguagem).