Afreudite, blog da blague "La valeur du message gît dans sa différence avec le code" "L´équivoque est la seule arme dont on dispose contre le symptôme" Lacan

Friday, June 03, 2005

Fora do Mundo

A Europa e quem diz Eu-ropa diz o mundo (narcississme oblige) está fascinada pela figura do jovem incógnito que foi encontrado a vaguear nas praias da Inglaterra. Mútico, ele ascende a um estatuto mítico, ao revelar-se músico quando posto perante um piano.
Combinando um desligamento quase total do laço social com uma aptidão surpreendente para a música, este jovem apresenta certos traços do "autista" sobredotado.
Estamos perante um caso de "forclusion du Nom-du-Père" (rejeição do Significante Paterno, que simbolizando o "significante do Desejo da Mãe" confere ao sujeito uma certa autonomia e uma inscrição no laço social). Quem rejeita este significante fundamental, condena-se, de certo modo, a viver "hors discours", à margem da sociedade. Pese aos autores do conhecido blog, são estes refractários à "Lei do Pai" que vivem verdadeiramente "Fora do Mundo" . Retomando um jogo de palavras de Lacan acerca do seu célebre significante (Le Nom-du-Père) o que este caso do músico mútico demonstra é que " les non-dupes èrrent", aqueles que não aceitam a "impostura" paterna , erram , condenam-se a errar , vaguear pelo mundo. (*)
Não resisto a este propósito a retomar algumas considerações que Monique Kusnierek tece, baseando-se em Éric Laurent, àcerca do autista .
O autista, apesar da designação, não deixa de estar acompanhado por um objecto. Trata-se de um objecto que faz as vezes de um "orgão suplementar", suplementar em relação à linguagem. O autista aplica a este objecto real, fora do corpo , uma manipulação que não passa pela fala mas que reveste a forma , em geral, de um batimento, de um movimento alternado em 2 tempos, uma abertura e fechamento " isto é , um movimento que tem estrutura de linguagem..." Tudo se passa como se o autista procurasse introduzir pelo real da manipulação, o simbólico.
Através deste objecto, o autista procura uma suplência ao simbólico, à linguagem que no seu caso não se constituiu em "órgão" susceptivel de organizar o corpo e normalizar o gozo.
Esta suplência ao órgão-linguagem porque dispensa o simbólico, acaba por se confinar a uma manipulação que se limita a uma reprodução infinita do mesmo sem dar lugar a uma série diferenciada possível apenas a partir do Simbólico.

Penso que é um pouco o que se passa com o músico mútico. Ele revela algum virtuosismo mas toca, segundo creio, sempre as mesmas melodias, provavelmente, na mesma ordem. Funciona não como um artista, cioso da sua originalidade mas como uma máquina, uma "caixinha de música".

(*) Como indica o mote do Vº Congresso da AMP (Associação Mundial de Psicanálise) a realizar no próximo ano em Roma, há que servir-se do Nome-do-Pai sem se tornar seu servo.

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