Anatomia do Riso

afreudite*
O ultimo nº de "Science et Vie", o mesmo nº que contém um artigo que motivou um comentário inspirado de "Atopia", dedica um estudo ao tema do riso.
Depois de filósofos (Bergson) e poetas, chegou a vez de a ciência dissecar o fenómeno do riso.

Dado que a ciência, preocupada com a chamada "objectividade", tem tendência a excluir o sujeito do inconsciente ficamos sempre apreensivos quanto ao resultado. Apreensivos e mesmo "gelados" quando se descobre que as investigações já realizadas deram origem a uma nova disciplina que recebeu o nome de "guelotologia" (do grego, "gelos" rir).
Isto é nome que se dê ?
De certo modo esta designação é consonante com uma certa vocação da ciência que é de "con-gelar", matar o objecto de estudo.
Esta vocação mortífera, "anátomo-patológica", da ciência (por associação surgiu-me a ideia, a explorar, de que os "serial-killers", uma espécie de "anatomistas" selvagens, constituiem um fruto, frankensteiniano embora, do discurso da ciência que nos domina ) está bem retratada no que foi considerada a melhor anedota do mundo (em 2002, ano em que o blog Afreudite ainda não existia):

Dois caçadores deslocam-se num bosque. De súbito, um deles cai, inanimado no solo. Em pânico, o companheiro apela ao 115...
- O meu amigo está morto. Não sei o que devo fazer...
- Acalme-se. Para começar certifique-se que ele está mesmo morto.
Após uns breves momentos, ouve-se uma detonação.
O caçador retoma o contacto.
- Está mesmo morto. E agora, o que devo fazer ? "

A ciência séria (1), preocupada com a "objectividade", primeiro assegura-se que o sujeito está bem morto, antes de proceder pacífica e objectivamente, aos seus estudos "anatómicos" (2).

(1) Contra a qual Nietsche propõe uma "gaya scientia"
(2) Sintomáticamente , a revista chama-se "Science et vie"