Cavalo de Tróia
A Academia Afreudite uma equipe de confreuds de História para revisitar a lenda do Cavalo de Tróia no sentido de apurar um eventual fundo de verdade.
Esta questão interessa tanto mais a augusta Academia quanto a deusa Afreudite, pelo menos indirectamente, tem alguma responsabilidade na guerra para o desfecho da qual desempenhou o cavalo uma papel decisivo.
Sem pretender ser exaustivo pode-se dizer que as origens últimas da contenda remonta a uma história de fruto proibido, tal como a desgraça que aflige a humanidade, de acordo com a Bíblia encontra as suas raízes na violação de um interdito envolvendo um fruto.
Resumindo, reza a lenda que para o baptizado do filho de uma deusa foram convidados todos os deuses excepto a deusa da discórdia, por razões que se compreendem. Sentindo-se ofendida , a "odiosa" (diosa odiosa) resolveu vingar-se. Passando pela festa, lançou para o meio dos convivas uma maçã de ouro (pomo d´oro) onde se podia ler : "Para a mais bela". Foi o suficiente para que se instalasse aquilo que se queria evitar. Três deusas, em particular, considerando-se as mais belas, disputavam entre si o cobiçado troféu, Hera, mulher de Zeus, Atena, deusa guerreira e Afreudite, deusa do amor e da beleza (1). Fez-se apelo a Zeus mas este este receando a fúria de Hera, caso não fosse ela a eleita, delegou a responsabilidade da escolha num simples mortal: Páris, filho de Príamo, rei de Tróia.
Procurando influenciar Páris, as deusas mostraram-se no seu esplendor e, talvez por não terem muita segurança na força dos seus "argumentos" não se cansaram de fazer promessas, Hera, um lugar no Olimpo (sujeito a confirmação), Atena, deusa guerreira, a glória nas batalhas e
Afreudite, a mulher mais bela .
Obrigado a decidir e sabendo que iria incorrer na ira das rejeitadas, Páris acabou por eleger Afreudite.
Satisfeita, a deusa do amor, apressou-se a cumprir a sua promessa, ajudando Páris a raptar Helena, sem dúvida, a criatura mais deslumbrante alguma vez vista à face da Terra. Mas como diz o ditado "não há bela sem senão" e o senão neste caso era que Helena era casada e, por sinal, com Menelau, o poderoso rei de Esparta (?). Decididos a vingar a afronta, os helenos coligaram-se, aparelharam uma impressionante armada e rumaram a Tróia, uma velha rival.
Os deuses que adoravam o espectáculo das guerras que dilaceravam os humanos começaram a tomar posição, Afreudite , claro, por Tróia, Atena e Hera, pelos valorosos gregos, começaram a fazer-se apostas, tal como fazem os humanos porque como diz Marguerite Yourcenar "se os gregos eram mais divinos era porque os deuse gregos eram mais humanos".
Dispenso-me de narrar em pormenor as peripécias muitas e variadas do prélio que durou cerca de uma década, a década de decadência de uma grande cidade (2).
Vou apenas referir os dados novos colhidos pela equipa de história da Academia Afreudite susceptiveis de lançar uma nova luz sobre o memorável evento.
Pesquisas aprofundadas e análises sofisticadas na base da mais moderna tecnologia permitiram detectar a presença, em vasos de cerâmica, de vestígios de um fungo, conhecido pelo nome científico de Amanita Muscaria, vulgo Amanita mata-moscas. Para quem não sabe, o amanita muscaria que ficou conhecido como "cogumelo sagrado" era uma espécie de "heroína" da época. Na obra " The sacred mushroom and the cross", (O cogumelo sagrado e a
cruz), o conhecido estudioso dos "manuscritos do Mar Morto", John Allegro pretende demonstrar, com base em evidências linguísticas que a religião da Cruz radicava, em última análise, numa religião da fertilidade girando em torno do consumo ritual do cogumelo sagrado (Amanita muscária), um culto ancestral que os povos indo-europeus teriam trazido das suas origens provávelmente siberianas (?) e espalhado por grande parte da Ásia, Próximo-Oriente, etc. Não vou procurar rebater a opinião dos que contestam estas teses na base de argumentos falaciosos e ainda menos, aqueles que pretendem que Allegro congeminou esta perspectiva sob o efeito de alucinogénios e , nomeadamente, do cogumelo sagrado.
Perante as evidências ( a descoberta de vestígios de Amanita Muscária em vasos datando da época da guerra prova indubitávelmente que o culto do cogumelo sagrado também estava aí em vigor. Pode-se presumir, extrapolando o que se passa hoje, que o consumo de Amanita Muscaria, a princípio reservado aos sacerdotes e, para fins rituais acabou por extravasar este âmbito e alastrar a uma franja cada vez mais significativa da população e, para fins profanos (digamos,recreativos).
Sabe-se (pense-se no Vietnam) que o consumo de estupefacientes aumenta em períodos de guerra. É provável que, no início do cerco, quando os stocks de Amanita abundavam, os muitos consumidores não só não se queixassem como se destacassem em batalha, sob o efeito do estupefaciente. Mas à medida que os stocks começaram a escassear é provável que o moral e o vigor combativo se ressentiram. O desespero começou a instalar-se e conflitos intestinos começaram a abalar a cidade pela posse dos últimos vestígios do cogumelo. De acordo com testemunhos fidedignos, os soldados, e mesmo os sacerdotes, es estado de privação batiam-se entre si, o próprio rei foi ouvido a proferir, enquanto batia com a cabeça nas paredes, uma célebre frase " O meu reino por cavalo" frase erróneamente atribuída mais tarde a outro monarca em apuros.
Ora, por cavalo, os troianos, entendiam, na linguagem de calão, o mesmo que entendiam os actuais toxicodependentes, ou seja, não própriamente heroína , mas o seu correspondente na época, a famosa Amanita Muscaria. Os gregos, que tinham espiões entre os seus inimigos, tomaram à letra a imploração real. Reunidos em conselho, o astucioso Tulisses apresentou o seu engenhoso plano : "Se os Troianos querem cavalo, nós vamos satisfazer-lhes o desejo".
O desfecho é conhecido ... e tudo fruto de um equívoco. Os troianos queriam "cavalo" (Amanita Muscaria) e os gregos, tomando o desejo ao pé da letra (como recomenda Lacan), ofereceram-lhes um cavalo... E como " a cavalo dado não se olha o dentre", os tróianos, agradecidos aos deuses que , de acordo com eles, teriam atendidos as suas preces, recolheram o cavalo de madeira, imaginando no seu desvario, que "dentre" os deuses amigos não se esqueceriam de o forrar com um carregamento vultuoso de "cavalo".
A história é tecida de equivocos. Como o xiste se constitui na base de equivocos, nós podemos dizer que a deusa Clio (deusa da História) não só é hystérica como propõe Lacan como é xistérica.
(1) Trindade a analisar no contexto da "ideologia trifuncional" dos indo-europeus
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