Quem tem capa...sempre escapa
afreudite*
José Gil debruça-se na sua última obra sobre o fado nacional. A grelha de leitura faz lembrar Melanie Klein (inveja) ou o Lacan dos primórdios, o Lacan do imaginário (fase do espelho).
Os portugueses não tomariam iniciativas receando a retorsão especular dos outros motivada pela inveja (tema Kleiniano). Escapa-lhe a dimensão simbólica (2º Lacan) e, sobretudo a dimensão real (Gozo) (3º Lacan) do fatum nacional.
Para se compreender esta dimensão real há que ter em conta esse sintoma nacional que é a saudade, que recobre o que eu designaria por "melalcoolia", uma melancolia encoberta por alcoolismo, (que afecta quase um milhão de portugueses que são dos maiores consumidores de alcool do mundo).
Em termos familiares isto traduz-se num sistema familiar marcado pelo predomínio da mãe (matriarcado), (o que tem correspondência a nível colectivo pelo ascendente da Virgem Maria (culto mariânico), o apagamento da figura do pai, que, frequentemente se refugia no alcoolismo, deixando a prole entregue à omnipotência materna. Daqui resulta o "infantilismo" de que fala José Gil, infantilismo e dependência de figuras maternas, a que os homens reagem pelo machismo e a violência impotente.
Mas não se pense que esta constelação familiar é privilégio dos lusicus-de-judas. Vamos reencontrá-la no outro extremo da Europa, onde o apagamento da figura paterna se combina com alcoolismo (Poder-se-ia a este propósito falar de um eixo Ibéria-Sibéria).
Como ilustração refiro uma anedota relatada por Slavoj Zizek (um autor esloveno que Afreudite recomenda) na sua obra "Eles não sabem o que fazem " dedicado a " O sublime objecto da ideologia" , publicado na Zahar ed. : "... numa exposição em Moscovo, um quadro mostrava Nadedja Krupskaia (esposa de Lenine) na cama com um jovem komsomol (Juventude Comunistas), sendo o título do quadro "Lenine em Varsóvia". Surpreso, um visitante da exposição perguntou :" Mas, onde está Lenine ? " -" Lenine está em Varsóvia", respondeu-lhe, imperturbável, o guia.
Não vou proceder a uma análise banalmente "edipiana" desta anedota, antes aproximá-la da imagem da foto que re-trata com alguma felicidade, a constelação familiar portuguesa. Mãe e filho muito unidos, encobrindo, perversamente, por detrás de símbolos paternos, a sua ligação demasiado próxima.
À pergunta : Mas, onde está o pai ?
A resposta não seria como na anedota de Lenine : O pai está em Varsóvia... mas qualquer coisa como : " O pai está no bar Sóvia, mas, de certeza, não sóbrio."
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