Afreudite, blog da blague "La valeur du message gît dans sa différence avec le code" "L´équivoque est la seule arme dont on dispose contre le symptôme" Lacan

Sunday, June 04, 2006

Pharmakon

afreudite*
Em grego, pharmakon (fármaco, remédio) tanto significa remédio, como veneno.
Muitas vezes aquilo que parece um remédio, por vezes miraculoso, acaba por se revelar um perigoso veneno.
Freud , antes de inventar a psicanálise, chegou a tratar a sua "depressão" com cocaína, cujos méritos enalteceu em artigos (Sobre a Coca, etc.) Chegou a tratar um amigo que sofria de morfinomania com essa substância...tornando-o cocainómano.
Era a época em que se desconhecia o poder viciante da cocaina, época em que um vinho (Mariani) contendo cocaína fez furor na Europa, a mesma epoca que viu surgir, nas outras bandas do Atlântico, um equivalente sob a forma da americaníssima e imperialissima coca-cola.

Desanimado com os efeitos obtidos com os farmacos disponíveis, Freud procurou encontrar, por outras vias (psicanálise) uma forma de aliviar o sofrimento humano.

Com a descoberta acidental, de substâncias como os neurolépticos com incidências na psicose e, os chamados anti-depressivos, a psiquiatria orienta-se para um novo organicismo, julgando encontrar em desequilíbrios bio-químicos cerebrais, a chave das perturbações mentais.
A psicose, sobretudo a esquizofrenia, é encarada não como resultado de conflitos intra-psíquicos mas de um excesso de dopamina (um neuro-transmissor), enquanto que , no que respeita à depressão é incriminado, a serotonina, outro neuro-transmissor.
Partindo do princípio que a "depressão", considerada pela OMS como a "doença do século XXI", tem como etiologia, um deficit de serotonina, os antidepressivos mais prescritos pertencem à família dos IRS (inibidores de recaptura de serotonina).

O problema destes medicamentos são , como nos bombardeamentos ditos cirúrgicos , os malditos "efeitos colaterais".
Embora alguns pacientes (não muitos) beneficiem aparentemente dos medicamentos baseados na IRS, cerca de 10% apresentam sintomas devidos ao aumento da serotonina que vão desde a euforia à mania.
Como reconhece um ex-director da Pfizer (fabricante de Zoloft), os IRS podem interagir com o sistema dopaminérgico, gerando efeitos extra-piramidais , entre eles a "Acatísia" (agitação psico-motora incoercível) que, nas formas mais graves pode ser vivida como uma autêntica tortura, na origem de reações extremas como o suicídio ou o homicídio.

Outro problema, não menos grave, é constituido , pelas multinacionais do medicamento, que , interessadas, mais no lucro que na saúde pública, apenas publicam os estudos que lhes convêm, sobrepondo os interesses do marketing aos da ciência.

Um exemplo paradigmático é constituido pelo célebro "Prozac", apresentado, com grande estardalhaço mediático, num livro de Kramer "Listening to Prozac" como uma revolução no tratamento, relegando para o museu as psicoterapias e a psicanálise, ao mesmo tempo que se procurava abafar , com a cumplicidade da FDA (Food and Drug Administration), os rumores cada vez mais insistentes que associavam, a administração de Prozac a suicídios e homicídios.
Foram necessários alguns processos em tribunal, para que a FDA, depois de as autoridades sanitárias europeias , (em 2005)terem posto em evidência um risco de comportamento suicidário associado ao uso de anti-depressivos, se decidisse a alertar o público para a"possibilidade de aumento do risco de comportamento suicidário, mesmo em pacientes adultos tratados com anti-depressivos".